sábado, 20 de agosto de 2016

7 | Jogos da fome

 Defino-me como o tipo de pessoa que não se sabe definir.
Se as pessoas tivessem tipos, o meu tipo de pessoa seria Pessoa (o Fernando, note-se) - Tipo porreiro, esse Pessoa, pensaria eu, enquanto tipo de pessoa que não costuma pensar se as pessoas têm tipos.
Confuso? - Este é o meu tipo.
Não sei de que forma sou:
formas são para os bolos e esses comem-se antes de pensar sobre isso. (sou o tipo de pessoa que mete os bolos à frente da filosofia.)
A vida, como as goluseimas, é para se levar à boca de uma só vez, e só assim é que se enche a alma, com açúcar e sem pensar muito, porque pensar é já tirar doçura à coisa e o amargo jamais me encheu as medidas.
*
Gostava de ter um livro de receitas que ensinasse a saber estar.
(Não saber estar no sentido de etiqueta: eu até sei que se começa a comer de fora para dentro quando há muitos talheres) mas saber ter um lugar, fosse onde fosse, onde pudesse sentir ter um lugar.
Eu não sei pertencer - facto. Eu não sei querer ficar onde quer que seja mais do que o tempo suficiente para reconhecer onde estou. Eu não sei estar quieta - metaforicamente.
 Algum chefe tem ideias para cozinhar algo com isto?
*
Contrariar-me é já acertar passo com o que há de certo em mim
(ou sou toda errada e ando ao engano, pela certa).
Alguém pôs fermento a menos em mim, porque me sinto sempre tão pequena.
*
Este é o tipo de texto que nem devia ter ido ao forno.
[Texto ou Broa de mel feita de palavras.]
A minha mãe diz que perdeu o jeito para fazer arroz, e talvez eu tenha perdido o jeito para escrever.
Mas ela continua a ter de cozinhar todos os dias, e eu continuo a ter de escrever (ocasionalmente.) - O arroz alimenta-me o corpo, as palavras a alma.
E estou cheia de fome, por isso vou ler.
*


Luz. 
 (tchi opa, há três anos que não assinava assim.)

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