sábado, 20 de agosto de 2016

18 | Na ponta da língua

Não sei estar calada.
E isto é um facto incontornável. 
Dizem que é no silêncio que se reconhecem as mentes mais barulhentas, mas quem o diz é porque desconhece os dramas de ter a boca ligada à alma, assim com um daqueles fios de telefone de lata, que transportam (às vezes contra vontade) os pensamentos mais improváveis para o lado de fora. 
Não sei travar a corrente de pensamentos que se precipita - aos encontrões, como jogadores competitivos - à procura da melhor frase para se expressar, e não raras vezes, com a pressa de sair, as ideias agarram frases sem sentido, enfiando-as debaixo do braço como a uma bola de rugbi.
Estou sempre cheia de palavras que não sabem ficar em silêncio, palavras que saltam em cima da ponta da língua, como crianças irrequietas, e que se deixam escorregar para as conversas de forma urgente, ansiosa, interminável. 
*
Gosto de palavras, sempre gostei.
Da forma como elas ganham vida dentro de nós. e se escapam por entre os lábios, às vezes sem querer, 
Gosto de pessoas que falam, e que falam bem, que fazem poesia com aquilo que dizem, mesmo nos assuntos mais banais. 
A poesia também se declama sem saber, e é quando é mais bonita. 
Gosto de coisas bonitas, sempre gostei. 
E não sei guardá-las para mim, tenho de contá-las, embrulhá-las em frases bonitas e atirá-las ao ar, como flores num casamento, para celebrar a dádiva de estarmos vivos, como diz o outro, e podermos falar sobre isso. 

Lemon. 

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