sábado, 20 de agosto de 2016

24 | O que dizem os meus bolsos

Meu amor,
tenho os bolsos vazios. 

Tenho os bolsos vazios de amor.
(E de palavras, mas isso já é outra história.)
Eu juro, 
Juro que procurei bem nos cantinhos, 
onde às vezes ficam as moedas e os caules dos trevos secos,
mas não tenho, amor. 
Amor, eu não tenho amor nos bolsos. 
 
Onde caiu? Perguntas tu, aflito. Estava mesmo aí!
Vê de novo, Mad. 
 
Ele estava mesmo aqui.
Eu deitei a mão ao bolso para tirar uma pastilha elástica 
e senti-o. 
Estava mesmo ali.
Mas agora já não está. 
Amor, eu perdi o amor. 

Não se perde assim o amor, Mad.

Caiu-me o amor ao chão, amor. 
Talvez tivesse os bolsos rasgados - tu sabes como eu tenho tanta coisa rasgada...
O coração. 
As asas.
As palavras.

Mas agora... amor, eu tenho os bolsos vazios. 
Que faz alguém com os bolsos vazios de amor? 
Se ao menos fosse de dinheiro... 
Para que quero eu dinheiro? Que posso eu comprar com isso?
 
Amor, onde posso comprar amor? 
E em que moeda pago?

Não se compra amor, Mad.
 
Mas amor, eu perdi o amor. 
Não sei se foi quando fui à mercearia.
 Talvez esteja lá a um canto,  debaixo da caixa dos morangos.
 
Amor, e se alguém confunde o meu amor perdido com um morango? 
É vermelho também, acho.
Amor, e se alguém pega no meu amor para fazer tartes? 
 
Se alguém que já tiver amor em si e comer mais amor,
pode ter uma overdose?
Quem me dera ter uma overdose de amor. 
 
Estou emocionalmente anémica. 
 
 Amor, há dispositivos electrónicos para encontrar amores perdidos? 
Talvez um detetor de metais...o meu amor sempre foi tão barulhento, talvez seja de chapa.
 
Espera.
 
Meu amor, tenho pássaros nos bolsos.
 
Mas não amor. 
 
Tenho poesia, também. 
E coisas sociológicas.
Olha amor, tenho a teoria dos campos no bolso! 
E Londres. Eu tenho Londres nos bolsos.
 
Mas não amor.

Amor, tenho os bolsos vazios de amor e de palavras,
mas cheios de pássaros. 
E britânicos.

 Ah, espera outra vez.

 Eu nem tenho bolsos.
Eu estou de vestido. 
 
Eu não fui feita para guardar amor em lado nenhum. 
Simples.

 
Uma confissão-confusão noturna de 
Madeline.

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