sábado, 20 de agosto de 2016

12 | O dia em que me esqueci de te lembrar

Começou como sempre começam os dias especiais: de forma exatamente igual aos restantes.
(E agora que falo nisso,  
não é bonita a forma como as coisas especiais são tão vulgares no seu começo?)
Não há nada de extraordinário no início de nada - 
o especial está na forma como as coisas, e as pessoas,
E especialmente as pessoas,
(Se) acontecem, sem se saberem especiais.  


Afinal de contas,  
- aprendi recentemente que -  
afinal de contas, 
há tanto de especial na vulgaridade.  
E por vezes, agora eu sei, 
Há tanto de vulgar naquilo que achamos ser especial.
  
Mas isto era um texto sobre ti e
Não sobre coisas especiais.

E sim, um texto, não um poema, 
que eu não sou de poesia,
sou de palavras que fogem para a linha de baixo.  
Assim,
vês?

Às vezes as palavras são assim, 
Vivas, 
E eu deixo-as estar à vontade delas onde lhes apetece,
naquele apetecer inconstante e sempre incerto das palavras... 
Como o meu. 
- Como eu. 

Não digas a ninguém, 
Mas às vezes acho que sou mais palavras do que pessoa. 


Mas isto não era um texto sobre não-poemas e palavras, 
Era um texto sobre ti 
E sobre a forma como te "despoesaste" em mim.  

Despoesar. (des+poesar) 
Verbo transitivo.
Ato ou efeito de deixar de ser poesia; desencanto; des-fascínio; palavra acabadinha de inventar 

Gosto da sensação de inventar coisas.  
Como palavras. 
E amores, e dores, 
 o que ao fim e ao cabo é tudo verso da mesma estrofe.  

Mas isto não era para ser um texto-torto sobre invenções. 
Era para ser um texto sobre ti. 

Mas hoje foi o dia em que eu esqueci de te lembrar, 
e começou como sempre começam os dias especiais: 
de forma exatamente igual aos restantes.

L.

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