sábado, 28 de maio de 2016

2 | Os dias em que não moro em casa

Moro no conforto do que conheço, reconheço-o:
quando habito, é nos lugares que me são casa, e porto, e farol, e concha,
em que caminhar é só andar em frente,
sem olhar o chão,
por lhe saber já de cor as ranhuras e fissuras que se abrem abaixo dos pés treinados.
Sei o que não pisar quando estou em casa,
reconheço, sem pensar, o estalido daquele degrau das escadas em que a madeira está mais solta,
e solto,
solto-me,
salto,
deixando a desconfiança à porta feita guarda-chuva em dias de sol.
Sei conduzir de olhos fechados nas ruas da familiaridade,
prego a fundo no acelerador. que a seguir é à esquerda,
e depois direita,
e de novo esquerda,
e cheguei ao destino que é também partida,
como um círculo incessante que conheço do princípio ao fim,
embora não tenha fim
nem princípio.
Moro no resguardo dos tiros no escuro, escudo eterno
e inquebrável de desafios falhados,
loucuras imprudentes, consequências inesperadas -
moro na espera o que é esperado,
e moro bem,
pois demoro-me no saber o que vem depois.
Sou leve e livre nas amarras pesadas dos lugares que são meus,
mas tem dias que olho pela janela com a avidez de quem quer ver mais;
de quem nunca viu mais,
de quem teme ver mais.
Nesses dias - que são raros, mas são dias na mesma,
(e noites, diz por aí)
aventuro-me pelos jardins e por vezes abro a cancela do desconhecido.
A medo, com o guarda-chuva em riste,
caminho aos tropeções pelos lugares onde ainda não pertenço,
mas quantos mais são os dias em que não moro em casa,
mais são os caminhos que passam a ser meus.

(once again) 
Florence

quinta-feira, 26 de maio de 2016

1 | Primeira porta à esquerda

Não me sei apresentar, constatei-o agora. 
Escrevo sobre mim desde que me lembro. Não há texto, história ou poema em que não vá pendurada no verso, agarrada com pulso firme às saias das personagens que criei, que quanto menos se parecem comigo, mais de mim levam no bolso. 
(Também tenho por hábito ler sobre mim; apanho boleia de qualquer autor, seja do Eça ao Chagas Freitas, sem preconceitos neste domínio - falaremos disto um dia por estes lados, esse dia não é hoje - e lá vou eu sentada ao volante das palavras que não são minhas, mas que parecem, e que visto, e uso, e pavoneio em frente ao espelho que é a forma como me vejo. A forma como me leio.)
A todas as palavras, histórias e personagens (minhas ou não) me apego, e em todas me revejo e desvendo, como cartões de visita para o (meu) lado de dentro. Sou um livro aberto, na maior parte dos dias. Abro a porta, pelas palavras, sem perguntar quem é; mas não me lembro da última vez que escrevi sobre mim sem me esconder da primeira pessoa. Não me lembro de ser Daniela na escrita, e não faço grande questão de começar agora. 

Quando escrevo sobre mim, escrevo sobre os outros. Escrevo sobre o que está no avesso, e o que  me rodeia - escrevo sobre ti, que estás a ler isto, e isto sou eu e és tu, a partilhar palavras num lugar que é meu, mas teu.

Por isso, por não ser somente eu, mas eu e todos os outros 'eus', aqui sou Primrose. Prim, para aligeirar.
Tenho na mesma 22 anos. 
Gosto na mesma de gatos. 
Como na mesma 2 hambúrguers do euro poupança ao lanche. Mais uma saca de nuggets. 

Este é o meu/nosso blog. 
Vai ser sobre abrir portas. Sim, acho que é uma boa explicação sobre o que se vai fazer aqui: abrir portas para o lado de dentro e para o lado de fora. Vai ter livros, música, fotografia, vídeo, ilustração, viagens, receitas (ainda em ponderação, não sei cozinhar), mas sobretudo textos. Devaneios, reflexões, desejos...como um quase diário, mas provavelmente semanal. A correr bem. 

Mas para saberem que está do lado de cá, vou esforçar-me por uma espécie de "Alta definição". 

Gosto: 
de Sociologia, de dormir, de noodles, das minhas Pessoas, do cheiro da lareira, do inverno, do meu gato (e do dos outros, mas mais do meu), de musicais, de sumo de laranja, do primeiro mergulho do ano, de coisas brilhantes, o cheiro do Verão à noite, de maquilhagem, de ler (bastante), de My Chemical Romance, de andar descalça, de ouvir e ser ouvida, de cabelos às cores, de arte, de dar presentes, de bolas de neve, de coisas antigas, de roupa em segunda mão, de gente que risca nos livros, de música Country, do instagram, de mandarim, de azulejos, de origami, de hostels, de vídeos, de gomas, de organizar coisas, de elefantes (e de porcos!), de domingos em família, de sushi, de feiras populares, de chá, de fotografias, de post-its, de cactos, de longas conversas, do Gus da Culpa é das Estrelas, do snapchat, de comediantes, da minha família do Alasca (Alaskan Bush People), de mandar e receber cartas, de ships improváveis (eternamente adolescente no que toca a Larry e Hayffie), de Harry Potter, de tatuagens (...) 

Não gosto: 
de acordar cedo, de caldeirada de peixe, de pilates, de confusões, de sair à noite, de umbigos, pés, narizes e sobrancelhas, de etiquetas na roupa, de fanatismos, de estar sem fazer nada, de muito calor, de meias-calças, do escuro (...) 

Um livro: Livro do Desassossego; 
Um filme: Moulin Rouge;
Uma música: Estou Além - António Variações; 
Uma cidade: Porto; 
Um sonho: Publicar um livro; 
Uma viagem: Índia; 
Uma frase: Quando 'te vês' é tudo. (Álvaro Lapa) 


Não diz muito sobre mim, mas dá uma vaga ideia do que se pode encontrar por aqui nos próximos tempos:
Mil e uma coisas 100 Cem-tido. 
Prim.