O que fazer com a falta que não me fazes?
Não é justo que a saudade vá embora quando há lugar para ela à mesa.
Tenho no sótão da minha alma caixas de cartão a abarrotar de afeição oferecida,
mas quando abro a carteira para oferecer amor
há só trevos secos e uma libra.
Não sei lidar com a Des-Saudade,
não sei o que fazer com a ausência-de-temer-ausência,
não sei onde arrumar o meu desinteresse pelo meu interesse em ti.
Houve tempos em que o que sentia por ti tinha direito a moldura no centro da sala.
Mas não mais.
A questão não é teres partido - hipoteticamente:
quantos não são os que (se) partem e e ficam por inteiro.
A questão é teres levado contigo a saudade que deveria ter ficado.
Eu não sei não sentir saudade.
Momento sincero:
Eu.
Estou-me.
Nas.
Tintas.
Para.
Ti.
E o que fazer com essas tintas que nem para pintar paredes servem?
És um filho da mãe egoísta.
As pessoas normais vão embora e despedaçam o coração de quem fica,
deixam-lhe saudades espalhadas pela casa,
esquecem pacotes de "fazes-me falta" no frigorífico da cozinha.
Mas tu, seu catraio insuportável, não só bateste a porta como levaste contigo a falta que me deverias fazer.
Agora eu não sinto nada.
Como sempre.
Nada. Nadinha. Nicles. Nothing. Niente.
Ora, Porra.
Eu quero a saudade a que tenho direito.
EU EXIJO SENTIR ALGO.
Que seja saudade.
Que seja falta.
Que seja Algo.
E que seja rápido.
Ninguém não-sente saudade assim que um não-amor (não) vai embora.
O que fazer com a ausência de sentir?
Tenho blocos de indiferença a barrar-me a entrada da dispensa da alma.
Na minha mente nunca é dia de limpeza.
P'ra quê arrumar se no dia seguinte está suja de novo?
Na minha mente nunca se faz a cama.
Porque a minha mente nem tem cama: ao contrário do meu corpo, que parece nunca acordar,
a minha mente nunca dorme.
Haverá "Dormidina" para as almas que não dormem?
A questão é que ao ires embora
(e quando falo na tua partida é uma partida simbólica, não corpórea)
deixaste cá (dentro) as tuas tralhas.
Agora,
além das minhas caixas de indiferença,
e das minhas pilhas de "sentir-falta-de-sentir-falta",
tenho ainda as tuas latas de carinho, as tuas caixas de amor, as tuas sacas de preocupação...
tudo aquilo para o qual
I don't give a shit.
E que não sei onde guardar.
Não é irónico?
Não é irónico ter caixotes de amor até vir o chico e não poder oferecer-tos?
Quem me dera que:
...eu pudesse dar-te tantas caixas de amor como tu a mim.
... as minhas arcas de frieza não me barrassem a passagem para o quarto onde dorme o meu sentimento por ti.
Dorme?
Devia ir ver se ainda respira.
Mas nem consigo passar.
...que fosse eu em vez do Gil T.Sousa a inventar a frase "tenho pássaros nos olhos".
A culpa é minha.
Sou uma acumuladora de emoções desprezíveis.
(e uma obsessiva compulsiva das limpezas sentimentais)
Guardo lixo e lanço fora tesouros.
Talvez tenha sido eu mesma a pôr-te porta fora.
Mas a minha alma
(ou o meu coração)
nem porta tem.
Quem quiser que entre pela janela.
Tu partiste.
Hipoteticamente.
E eu não sinto falta.
Eu não sei não sentir falta.
EU EXIJO QUE ME DEVOLVAM A MINHA CAPACIDADE DE SENTIR SAUDADE.
Já.
Para poupar nos portes, mandem no mesmo envelope a minha capacidade de sentir vontade de estudar.
FIM.
Uma espécie de coisa que parece um poema de,
Madeline.
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